domingo, 1 de março de 2009

MANUEL MOREIRA 'O MOREIRA DO CARVALHAL'

Manuel Moreira, nasceu no Carvalhal do Sapo a 26 de Agosto de 1921 e aqui faleceu a 31 de Dezembro de 2008.
É costume comentar que a vida são dois dias, a data do nascimento e a data da morte e vê-mo-lo sempre que vamos a um cemitério e todas as lápides traduzem esta realidade no seu dizer singelo, nasceu a tantos de tal e faleceu a tantos de tal. A diferença entre estas datas é um interregno da vida, uma imagem que perdurará ou se extinguirá, consoante as acções que podemos fazer em vida e que marcam a nossa passagem por este mundo.
Manuel Moreira, neste seu interregno, foi uma figura que marcou a sua passagem por este mundo na nossa terra, e que ficará para sempre na memória das nossas gentes, foi sempre uma figura marcante, de grande carisma para a era em que viveu, foi um grande exemplo para a sua e futuras gerações. Um símbolo dum mundo que deixou marca e que infelizmente está a desaparecer!
Era um homem que fazia da convivência uma devotada arte de partilhar a amizade. O seu grande amor pela família e a amizade pelos amigos era o que de mais importante tinha na sua vida.
Teve uma vida difícil, uma juventude vivida em terra inóspita de fracos recursos que tornava a vivência muito dura. Para aumentar as já normais dificuldades, surge uma situação inesperada e incompreensível para uma criança de nove anos, ficar órfão de pai, com mais dois irmãos de seis e três anos, a mãe fica com maiores responsabilidades e obrigações para cumprir, deixadas pelo falecimento inesperado do pai, a pobreza que exalava na família tornava impossível o cumprimento destas obrigações. É aí que entra a responsabilidade do filho mais velho, colaborar na alimentação da família e no cumprimento dos deveres da mesma. Foi com esse sentimento de amor fraternal, e o sentido do cumprimento dos deveres de família, que toma uma decisão, mudar o rumo da sua vida, arranjar maneira de ganhar a vida, uma vida que trouxesse algum dinheiro, para alimentar a família e pagar as dívidas que ainda se mantinham. Foi na esperança de uma vida melhor que tomou o rumo a Lisboa, onde foi procurar um meio de subsistência e o melhor que encontrou foi como moço de armazém, onde se empregou, recebendo um parco salário, mas com boa gestão e muito esforço conseguiu o seu objectivo, entretanto surge uma outra situação, a de formar uma nova família, consumar o casamento, pois isso seria a ordem normal da vida... e assim aconteceu. Casamento consumado a vida vai ter de continuar, a mulher fica na aldeia a cultivar as suas terras e ele vai ter de continuar a sua sorte na capital. Situação que se foi mantendo por alguns anos mas as saudades da esposa e do primeiro filho, já nascido, começam a apertar e a angústia da distância a fazer-se sentir... e assim, há que enfrentar a situação! Foi na tentativa de conseguir dar novo rumo à vida dura, aos salários miseráveis, à separação da família pela distância que surge a oportunidade que há algum tempo ecoava o regresso à sua terra. Era uma oportunidade única, dar seguimento a um pequeno estabelecimento de comércio misto aí existente. Ultrapassados alguns percalços pelo meio, os escassos meios para enfrentar as dificuldades que se avizinhavam, foi com a grande força de espírito de que sempre foi portador que tudo se ultrapassou e o seu objectivo atingido. Mesmo após o seu regresso à terra natal, a vida permaneceu dura mas na companhia da família e podendo contar com o seu apoio, foi mais fácil lidar com a crueza duma luta que afinal nada mais foi que o apanágio de uma vida.
Com o passar dos anos, a família vai aumentando, os filhos vão aparecendo até um total de oito, sem contar com o desaparecimento de uma ente querida que poucos dias de vida teve, mas que continua a perdurar na nossa memória. Tem que haver força e alento para enfrentar as agruras da vida! Passa os seus dias entre gerindo o estabelecimento e alguns negócios paralelos como a construção e o negócio de madeiras, que mantém por muitos anos.
E ultimamente, embora já tivesse abandonada há algum tempo os outros negócios, manteve sempre aberto o seu estabelecimento. Actividade esta que, ultimamente, já com alguma dificuldade de mobilidade física ia prestando apenas os serviços essenciais, que eram uma maneira de minorar o sofrimento de pessoas que, como ele, continuavam a dar vida à aldeia e que teimam em não a abandonar pois ela é sem dúvida o símbolo da sua existência.

Foi dentro deste estabelecimento que passou a maior parte da sua vida, onde muito trabalhou, se divertiu, teve momentos de grande alegria na companhia de clientes e amigos e que por ironia do destino teve os seus últimos momentos de vida, após ter terminado a sua normal distribuição de pão, deu o seu último suspiro...

É com muito mágoa que a custo escrevo estas linhas, mas sinto uma grande felicidade por poder desta forma, prestar homenagem a uma homem que sem duvida fez história nesta terra. A sua casa estava sempre aberta para receber a família e amigos que muitas vezes se deslocavam de longe para ir visitar o amigo Moreira do Carvalhal. Uma outra faceta da vida deste homem, foi um condão que, infelizmente, nos dias de hoje, nem todos conseguem, o dom de fazer amigos! A sua casa era paragem obrigatória e as portas estavam sempre abertas para receber a família, amigos ou simples visitas, para todos havia sempre, qualquer coisa para partilhar, beber um copo, comer uma sardinha ou um bocado de queijo, acompanhada de uma fatia de broa... bens de outrora, são coisas que as gerações vindouras não vão conhecer.
Partiu... embora já pareça uma eternidade ainda há pouco tempo! Foi um homem do povo, um homem simples mas de carácter, que fez muita falta a esta aldeia.
Manuel Moreira, vai sempre continuar presente na memória desta aldeia, terra que sempre amou e dedicou grande parte da sua vida. Continuarás sempre a fazer parte de nós! jamais serás esquecido.
Até amanhã meu pai!

2 comentários:

Eugénia Santa Cruz disse...

Foi com tristeza que tive conhecimento através deste blogg que o meu amigo tio Moreira morreu. Guardo a sua imagem com muito carinho. A sua bondade e respeito eram um cartão de visita a quem visitava o Carvalhal, quando lá chegava, logo me dirigia à sua tasca para o visitar e tomar um café (que sabor tinha este café, que bom que era). Na minha juventude passei alguns dias no carvalhal, ora a trabalhar ou quando ia às festas de verão. A sua filha Alzira foi minha colega e amiga. Mas por circunstâncias da vida deixamo-nos de ver, mas continua no meu coração.

Eugénia Santa Cruz

Eugénia Santa Cruz disse...

Olá Sr. Acácio!
Obrigada pela sua mensagem, mas a nossa terra é a nossa terra, são as nossas raízes, o nosso passado. É este passado que nos ajuda a viver e a construir o presente e cabe-nos a nós falar um pouco destes paraísos perdidos num dos vários cantinhos deste nosso Portugal.
Eu estimava muito o seu pai e recordo-o com muita saudade. Gostei de saber que a Alzira está bem, por favor dê-lhe o meu contacto pois tenho muitas saudades dela e gostava de reatar a nossa amizade que apenas tem estado meia adormecida.

eugenia-santacruz@hotmail.com ou eugeniasantacruz1@gmail.com

Quanto às notícias das nossas aldeias prometo continuar a escrever e dar noticias das mesmas. Também tenho outro blog- Corterredor terra natal do meu marido.

Um abraço
Eugenia Santa Cruz