quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

O NATAL NA MINHA TERRA






A vida tem sempre algumas contradições que são engraçadas. Sempre adorei a quadra festiva do Natal e muitas vezes tive grandes decepções nesta época. Talvez porque sonhe com coisas que não são comuns a todos nós.


É uma quadra que desde criança sempre senti ter uma magia muita grande para mim, sinto-a no ar talvez por criar grandes expectativas embrenhar-me em recordações, talvez porque sinto as coisas de maneira diferente das pessoas que me rodeiam, isto conduz-me a um estado de tristeza e nostalgia. O espírito do Natal deu lugar a um espírito de consumo cinismo e hipocrisia


Famílias inteiras sentam-se à mesa, trocam presentes, sorriem, com aquela alegria falsa e cheia de hipocrisia, como se durante todo o ano, ou toda a vida tivessem mantido entre si o espírito de família.Na minha mesa da consoada as cadeiras têm sido ocupadas por cada vez um número menor de pessoas. Uns já faleceram e deixam uma enorme saudade, outros afastaram-se e deixam um, misto de saudade e alívio, outros há que querem impor a sua presença mas por motivos que sabemos não ser os mais desejados outros serão ou não, mas com um espírito diferente do meu. Talvez por obrigação, ou só por respeito a alguns membros da família. Esse não é o conceito que eu gostaria que fosse o do Natal. Tantas vezes se diz que o Natal é sempre que nós o quisermos. Será? Por onde anda o espírito de família? A partilha do bom e do mau, a cumplicidade, a união, o espírito de entreajuda, o respeito mútuo. Certas quadras não deveriam existir, não por aquilo que representam, mas por aquilo que nos fazem acreditar que são.
Mas têm de existir mesmo, para que possamos reflectir sobre muita coisa. Para que tenhamos a oportunidade de mudar o que nos magoa. Para que deste modo possamos dar mais uns passinhos, por muito pequeninos que sejam, em direcção a um bem muito maior, que é o bem-estar da humanidade. Talvez ao sentirmos o afastamento da família ou o espírito da família nesta quadra de Natal, nos leve a meditar e a alargar os horizontes e a pensar que todos na terra deviam viver unidos por esse espírito. Se existem tantas famílias que não se dão bem como podemos querer a paz no mundo. O melhor será começarmos pela nossa família já que não conseguimos mudar o mundo, peço a Deus que nesta quadra nos ajude a manter o espírito de família, nesta ínfima célula a que está reduzida a minha família e que esse espírito vá passando de geração em geração. No Natal reaprende-se o verdadeiro significado de estar em família, de ouvir aquela voz que já não se ouve há muito ou o receber uma lembrança de alguém improvável.

(Texto publicado na blogagem colectiva de Dezembro "O Natal na minha terra" no blog 

quinta-feira, 12 de novembro de 2009

O MAGUSTO NA MINHA INFÂNCIA


O Magusto é sempre uma festa popular, cujas maneiras de o celebrar variam um pouco consoante as tradições regionais.


É tradição juntarem-se grupos de amigos e famílias à volta de uma fogueira normalmente ao ar livre

onde se vai assando castanhas para comer, bebe-se água -pé, vinho novo e jeropiga, cantam-se cantigas , as pessoas enfarruscam-se

com as cinzas, fazem-se brincadeiras, tudo na maior alegria. Quando aparece uma castanha "parida", é oferecida uma das partes a outra pessoa

ficando assim a ser compadres. Uma tradição na minha aldeia ainda sendo hoje usada pelos mais velhos.Embora o magusto seja normalmente realizado em dias festivos, é tradição em dia de todos os santos e São Martinho haver magusto colectivos e familiares em todo o nosso Portugal. Antigamente na minha aldeia era motivo de pretexto para os mais jovens nas tardes de domingo em época de castanhas fazerem o magusto para se poderem reunir e divertir à volta do lume feito com caruma dos pinheiros, com que assavam as castanhas. Uns ocupavam-se de ir apanhar a caruma , outros ofereciam castanhas e outros levavam a água-pé ou a jeropiga, e assim se passava uma bela tarde de domingo que muitas vezes terminava com um bailarico pela noite dentro.

Reza a lenda que, em dia tempestuoso ia São Martinho, soldado romano, montado no seu cavalo, quando viu um mendigo quase nu, tremendo de frio, que lhe estendia a mão suplicante, São Martinho não hesitou: Apeou-se do cavalo com a sua espada cortou ao meio a sua capa de militar e de imediato deu metade ao mendigo. E apesar de mal agasalhado sob chuva intensa, preparava-se para continuar o seu caminho cheio de felicidade. Mas subitamente, a tempestade desfez-se, o céu ficou límpido um sol brilhante inundou a terra de luz e calor. Para que não se apaga-se da memória dos homens o acto de bondade praticado pelo Santo, quis Deus que todos os anos nessa mesma época, e por alguns dias, o tempo frio para-se, e que o Céu e a terra sorrissem com a bênção dum sol quente e miraculoso. É o chamado Verão de São Martinho. E que eu como já é costume deslocar me a Góis minha terra natal para participar nas festas do dia de Todos os santos e celebrar a tradição de estar presente com a família no tradicional magusto colectivo, uma simpatia da Câmara Municipal de Góis e produtores locais de castanha.


(Texto publicado na blogagem colectiva de Novembro "O meu magusto" no blog www.aldeiadaminhavida.blogspot.com/ . Visite este blog e vote no seu texto preferido)

domingo, 25 de outubro de 2009

VINHO DO PORTO

ERA UMA VEZ UM VINHO
clique aqui para ler mais

Se gosta de conhecer como se faz e classifica um vinho do porto, leia estes textos na minha pagina web

AGUARDENTES

CLASSIFICAÇÃO DAS AGUARDENTES
Se gosta de conhecer como se faz ou classifica uma aguardente leia este texto .
Clic aqui para ler mais

VINHOS ESPUMANTES

OS ESPUMANTES

se gosta de conhecer com se faz ou classifica um espumante espumante
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sábado, 24 de outubro de 2009

SERVIR O VINHO

SERVIR O VINHO

Se gosta de saber com se deve servir um vinho
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VINHO VERDE

VINHO VERDE 

Se gosta de conhecer como se faz e classifica um vinho verde
CLIC AQUI PARA LER MAIS

O VINHO

VINHO

Se gosta de conhecer o que é o vinho, como se fabrica, as castas,  como se classifica, o que é um VQPRD, ou um DOC, um IPR, um garrafeira, uma reserva.etc.
Para ver mais clic aqui

Um excelente texto

CLASSIFICAÇÃO DO VINHO

CONHECER OS DIFERENTES TIPOS DE VINHO

Se gosta de conhecer quais os diversos tipos de vinho  como um MOSCATEL, um VQPRD, DOC, GARRAFEIRA, RESERVA, Etc.
Para ler mais clique aqui.
 UM EXCELENTE TEXTO.

domingo, 18 de outubro de 2009

NAS BEIRAS, COME-SE BEM...


Comer bem é sem dúvida algo que nós por cá. beirões, podemos apregoar bem alto! De certo que quem conhece as beiras, não discordará pois sabe que aqui existe uma culinária tipicamente tradicional da gente do povo, desenvolvida com base nos produtos regionais caseiros, com tradição secular passada de geração em geração. São de salientar os enchidos, os queijos, o cabrito, o borrego e o porco.

Tendo em conta que o pastoreio é um dos principais meios de subsistência destas gentes sobressai a grande tradição dos pratos com base na carne de cabra e ovelha. Dos mais notáveis o cabrito na grelha, o cabrito estonado, sem esquecer o tão saboroso cabrito no forno à moda da minha terra, a famosa chanfana das Beiras, um prato típico que nunca falta na mesa das gentes beirãs em dia de comemoração festiva, um prato confeccionado com carne de cabra adulta, levada ao forno em caçarolas de barro preto, o forno que ainda é aquecido a lenha, onde a carne coze lentamente durante várias horas, o que lhe confere um sabor inigualável. Os tão famosos maranhos, prato típico muito apreciado. Ah e a afamada matança do porco (que é sempre tornada numa festa!), os tradicionais torresmos, que vêm com a matança do porco, iguaria que já raramente temos o prazer de saborear na minha terra devido ao facto de já praticamente ninguém se dedicar a esta tarefa.

Claro que já terão percebido que na minha terra quem quiser comer bem ou menos bem terá de ser em casa de família ou amigos, porque restaurante é algo que não existe. Mas existe gente de bons costumes, hospitaleira e de grande carácter, que tem o condão de fazer amigos com muita facilidade, capaz de convidar para a sua casa e sentar à sua mesa qualquer viandante. Mas por momentos, desviei-me do essencial, comer bem. E por falar de comer estou a lembrar-me daquele bolo de cebola cuja base é a cebola, e se adiciona carne ou bacalhau ou sardinhas, conforme a disponibilidade. Bolo este que era regra obrigatória quando se cozia broa, actividade que era normalmente realizada uma vez por semana. Para quem não conhece, acreditam, é uma iguaria sem igual. Uma especialidade da minha terra, Carvalhal do Sapo.




quinta-feira, 1 de outubro de 2009

CHANFANA PARA O ALMOÇO DE DOMINGO

Enquanto o membro mais recente da família se actualiza lendo a revista domingo

o forno já está a aquecer, um dos primeiros preparativos do dia

vamos iniciar por aqui, um aperitivozito não faz mal a ninguém


Iremos acabar por aqui, um bom scotch



Ou talvez por um bom cognac. Tambem não deve ficar mal!.
Sempre com moderação. Lindos meninos ! assim está bem.



 Enquanto a carne de cabra velha vai macerando em tempero do dia anterior

Entretanto è altura de fazer a escolha da pomada para fazer o acompanhamento do prato,visto isso ser uma regra obrigatória para comer bem na minha terra.

Talvez um espumante tinto bruto, ou um Dupla da Bacalhoa vinhos, Magnum com 14,5% vol, produzido por dois enólogos: Filipa Tomáz da Costa e Vasco Penha Garcia, bons profissionais na arte de fazer bons néctares. Já cresce água na boca! continuem para ver.

O tabuleiro a entrar no forno previamente aquecido a lenha como vamos ver (pena que o tabuleiro não seja de barro preto como exige a tradição)
E como devem ter reparado já tenho a camisa molhada, e sem dúvida que foi o resultado da árdua tarefa de aquecer o forno, não foi do aperitivo, um moscatel roxo de 25 anos. São servidos, de aquecer o forno claro!



entretanto vamos temperar um tabuleiro de maçãs reinetas para assar ao mesmo tempo que a carne e as batatas, no forno com um tempero especial da casa incluindo um bom vinho do Por



Agora que as maçâs já passaram no forno o tempo suficiente, vamos deixar arrefecer um pouco para depois saborear como sobremesa.



Que tal o aspecto! O sabor garanto estava uma delicia.

Uma pequena vistoria ao forno e uma mexida para que a carne fique alourada por igual


Mais uma vistoria e após uma prova, está quase pronta,vamos aguardar para mais uns minutos

Está deliciosa vamos tirar do forno! Vão se chegando ah!ah!ah!

Tabuleiro a caminho da mesa, começam a ouvir-se rumores e o arrastar de cadeiras...
.
Quanto à pomada decidi por um Tinto da Ânfora Grande Escolha de 2006 da Bacalhôa Vinhos de Portugal. Muito adequado para este prato, e disso sei eu acreditem. A Dupla magnum fica para a próxima, talvez vá acompanhar um bacalhau com batata a murro, acreditem que fazem um lindo casal.


Ah! Ainda não tinha falado das espectaculares batatinhas assadas com umas cebolinhas no forno, para acompanhar a deliciosa chanfana, sem dúvida casam muito bem.

A família já está reunida a volta da mesa, para iniciar mais um sacrifício de Domingo, ter de almoçar. Que tal são servidos de nos acompanhar neste sacrifício ?

Para a próxima amigos... para esta já é tarde. Estas imagens revelam os passos da preparação do almoço familiar de domingo em nossa casa em Azeitão, no dia 27 de Setembro 2009.

Garanto tudo foi usado com a maior moderação!!! Duvidam? paciência. Como se devem lembrar eu disse domingo, como tal é dia de descanso, e não há nada melhor que após o almoço se faça uma sestasita para retemperar as forças e tudo volta ao normal. É conveniente mantermos a forma, não podemos faltar aos treinos; entendidos! Ok?

Não podia deixar passar esta oportunidade, tendo em conta que no mês de Outubro está a decorrer no blog www.aldeiadaminhavida.blogspot.com, o tema, na minha terra come-se bem, façam uma espreitadela a este blog e vão ficar surpreendidos pela positiva. Podem colaborar com textos ou simples comentários. Já enviei o meu texto, não percam.

Acácio

terça-feira, 29 de setembro de 2009

O Carvalhal e o milho



Longe vão os tempos em que ao percorrermos a rua da volta da procissão ou a rua da escola, na aldeia de Carvalhal do Sapo era lindo ver aquelas terras que serviam de estendedouro, com mantas de retalhos, estendidas sobre palha de centeio, cobertas de milho estendido que secava ao sol de Setembro para depois guardar nas arcas, que ao longo do ano iria ser usado no fabrico da farinha com que produziam a broa indispensável à alimentação dos habitantes da aldeia. Um quadro lindo mas longínquo, pois hoje já pode parecer uma miragem, ter o prazer de apreciar uma imagem real com milho a secar ao sol nesta aldeia. Contudo foi com algum agrado que há dias numa visita que fiz à minha aldeia, tive a sensação de estar a ter uma miragem, um oásis no meio do deserto, encontrar uma dessas velhas mantas com milho estendido, debulhado e em espiga que secava ao sol. Prova disso é uma fotografia que fiz para provar a mim mesmo que não era uma miragem e para poder mostrar a gerações vindouras, como era tratado o milho, após as debulhas, nas aldeias que nos deram vida e nos ensinaram a viver os primeiros anos da nossa existência, no meu caso de toda a minha adolescência. É com muita alegria e saudade que recordo estes tempos. Elogio com sinceridade as pessoas que ainda têm coragem de se aventurar nesta tão árdua tarefa. Um bem-haja por me terem proporcionado um momento de tão rara beleza.

sexta-feira, 14 de agosto de 2009

CARVALHAL DO SAPO - FESTAS EM HONRA DE S. JOÃO

A maioria das aldeias do concelho de Góis tem as suas festas no mês de Agosto, no Carvalhal do Sapo, a tradicional festa é em honra a S. João e como tal é celebrada em Junho, no fim-de-semana que mais perto se situe de dia 24. Esta situação vem da comum desertificação que, infelizmente, cada vez mais acontece nestas zonas, o que antigamente era uma celebração de 3 dias, é actualmente um dia. Contudo, apesar de ser apenas um dia, é um dia de muita alegria, com muitas tradições e que traz ao encontro os amigos de longa data, que muitas vezes apenas se encontram por esta altura.

As festas em honra de S. João são obviamente preparadas ao longo do ano, com a dedicação e carinho que os carvalhalenses têm pela sua aldeia, mas é nos dias anteriores que mais se nota o alvoroço, os enfeites pelas ruas (durante o ano preparados à mão pelas pessoas da aldeia), as luzes, o embelezamente de uma aldeia já bonita, o cheirinho da chanfana que emana dos tradicionais fornos aquecidos a lenha, as filhós, o pão-de-ló, são iguarias típicas da aldeia que neste dia é obirgatório em todas as mesas. O dia da festa que começa bem cedo com a música a animar a aldeia inteira, seguida pela missa, ultimamente celebrada no adro da capela, o que começou por a ser capela ser pequena e não chegar para todos os participantes, torna agora a missa num acto religioso num ambiente descontraído e que traz ainda mais participantes para no final ser feita a volta da procissão (em torno da aldeia) com os santos padroeiros da aldeia, é bonito ver todas as pessoas a percorrer as ruas com os seus trajes festivos e de cara alegre ao som da banda filarmónica. A tarde é de convívio e alegria a rever os amigos, a ouvir as velhas histórias da infância e ver as crianças brincarem alegremente. E nada melhor para terminar que o tradicional bailarico, sempre com boa música e pessoas animadas que vêm de outras aldeias para todos festejarmos mais um ano de coisas boas e más sempre com a protecção do nosso querido padroeiro

sábado, 25 de julho de 2009

Album de Fotos de Gois-Carvalhal do Sapo




Se gostarem das Fotos é so clicar nelas para ver em tamanho real. Seria importante tambem fazer alguns comentarios ás fotos isso podia ajudar-me a gerir melhor a qualidade do album. Obrigado.

quarta-feira, 17 de junho de 2009

RECORDAR O CARVALHAL NO ANTIGAMENTE


Mais uma vez fui à minha aldeia, aproveitando os feriados de Junho, que anexos a uns três dias de férias resultou numa maravilhosa semana de descanso, em companhia da família incluindo o membro mais recente, a Catarina, que com a sua presença e a sua sempre boa disposição nos faz sentir as pessoas mais felizes deste mundo e uns avós muito babados. Foi levada pela primeira vez a sentir o prazer de um passeio matinal a beira do Ceira no cerejal em Góis e sentir o prazer de poder meter os pés naquela água, pura e cristalina, o que fez com grande alegria e espontaneidade podendo assim desde bem pequenina começar a desfrutar das maravilhas que a nossa terra nos oferece. Sem dúvida que as praias do rio Ceira em Góis, são um oásis, que ao primeiro olhar, nos convidam a desfrutar um bem que já não é assim tão vasto, uma praia fluvial com águas puras e cristalinas, sem qualquer tipo de poluição que nos convida ao ócio e ao mergulho, com umas umas boas braçadas e a podermos espraiar num lugar na areia, ou num belo relvado que ladeia as margens do Ceira tendo ainda a vantagem de poder escolher um lugar ao sol ou à sombra. Seria deveras injusto omitir a qualidade das esplanadas que são colocadas á beira rio, durante a época balnear, onde podemos mitigar os nossos desejos e dar a paz e conforto que o nosso âmago anseia e bem merece.
Comecei por dizer que a ida foi à minha aldeia , mas tenho de confessar que reparti o tempo pela minha aldeia e pela vila de Góis, o que já é habitual, como há parte da família que se sente melhor na vila, sinto-me na obrigação de partilhar esse desejo que também não me desagrada.
E esse maior interesse pela vila só acontece porque esta geração mais nova, não desfrutou daqueles prazeres de antigamente passados no Carvalhal, as sementeiras agrícolas, trabalho árduo mas que era sempre desempenhado com o maior afinco, e a maioria era sempre executado em entreajuda, fosse agarrado ao cabo de uma enxada, de um ancinho ou a rabiça do arado tudo era feito na maior harmonia e camaradagem. Não esquecendo as sementeiras das ribeiras, onde havia sempre lugar a uma bem merecida, mas curta sesta após o almoço tomado quase sempre à sombra dos salgueiros ou outra árvore que oferecesse a melhor sombra, que nem sempre era aproveitada da mesma maneira por todos, enquanto uns dormiam outros divertiam-se a pregar partidas, a mais usual era a atar as pernas, ou a coser as calças nas pernas a algum que se deixasse adormecer, e quando fosse acordado para o reinicio aos trabalhos dava-se hora do riso pois era óbvio que não se conseguia levantar e caía... era chegada a hora de aparecer alguém arvorado em bom samaritano para cortar as linhas ou as cordas que cosiam ou atavam as calças. Havia sempre lugar ao trabalho e ao divertimento. Depois de um dia de trabalho duro, ainda havia disposição para ir para o largo da cruz da rua e fazer um baile até as tantas aahhh e como era saudável, onde novos e idosos se divertiam dançando ao som da concertina, da guitarra ou muitas vezes só ao som da harmónica (gaita de beiços) ou flauta, nome por que era mais conhecida nesta região. Chegada a época das colheitas do milho. era uma azáfama tinha de ser colhido e seco antes de começar a cair as primeiras chuvas. Os serões, nome porque eram conhecidas as escapeladas ou as debulhas, trabalho de desempenho comunitário onde as pessoas se entreajudavam com muita lealdade e pureza. Trabalho esse que era sempre desempenhado depois de um árduo dia de trabalho, uns seriam feitos antes e outros depois do jantar, onde não faltavam as cantigas, as mais variadas brincadeiras, se contavam muitas e criativas histórias, alegres anedotas, que nos faziam esquecer o cansaço e a dureza do quotidiano, onde se iniciavam ou terminavam alguns namoricos, entre a juventude que na altura havia muita na minha aldeia. Depois destes serões, às vezes já terminados muito para além da meia noite, ainda havia tempo para a rapaziada, mais atrevida ir roubar umas uvas para a ceia, e sabíamos sempre onde começar, as que já estavam mais maduras e o dono já dormia. um som inesquecível era o chiar dos carros de bois, que ao longe se podia ouvir formando uma melodia que mais parecia uma composição musical. Enfim... coisas do passado, que as gerações vindouras jamais poderão conhecer. Muitas vezes tento demonstrar aos meus filhos como era a nossa vida nesse tempo, e sinto uma felicidade incessante em estar a recordar como vivíamos nestas aldeias, como sofríamos mas éramos felizes ao mesmo tempo. A escola, que só podíamos usufruir do ensino primário, quarta classe, antes de entrar na escola às nove horas ainda fazíamos tarefas caseiras como, carregar um molho de mato ou lenha que os nossos pais faziam e nos punham as costas, com uma recomendação não te demores para não chegares atrasado à escola, o café ou a dejua como era conhecida, a primeira refeição do dia nem sempre era tomada, umas vezes por falta de tempo para não chegar atrasado as aulas outras pela inexistência de conteúdo. Os rebanhos que enchiam as ruas da aldeia, com o tilintar das campainhas ou dos chocalhos que saiam ao alvorecer ou chegavam ao cair do crepúsculo... era uma imagem única com os cabritos e os cordeiros a saltitar, alguns acabados de nascer ainda transportados ao colo do pastor. Neste momento são sonhos para quem viveu esta realidade porque tudo isso acabou, em grande parte devido à necessidade que as pessoas tiveram de emigrar, procurar noutros locais a esperança de uma vida melhor, em especial na grande Lisboa, onde ainda hoje existe uma grande comunidade Carvalhalense. As tardes de domingo que antecediam as festas da aldeia em honra de São João, o padroeiro da aldeia onde toda a comunidade aldeã se reunia numa casa do mordomo, para preparar manualmente os artefactos com que iriam ser decoradas as ruas da aldeia para o dia da festa, flores, candeeiros, fitas de papel, os arcos com ramos de castanheiro ou azereiro etc.. trabalho artesanal, uma arte que que era passada de geração em geração, mas infelizmente está a desvanecer. Sinal dos tempos modernos. Hoje é mais fácil adquirir esses ornamentos num armazém de quinquilharia chinesa, oh... que saudades, por onde andas Carvalhal do Sapo de antigamente. Seguramente também não era possível viver hoje desta maneira. Não passava de uma escravidão consentida e aceite pelas pessoas com alguma leveza, o meio pobre em que estavam inseridos, a rudeza da vida que tinham de enfrentar, o baptismo do obscurantismo com que éramos premiados durante a nossa infância, só alguns mais aventureiros e arrojados, se decidiam pela migração, procurando um salário mensal fixo com que pudesse alimentar a família condignamente. Coisa que nestas aldeias era um bem inexistente.
Então e os serões em casa do sapateiro, o sr. António Maria de Almeida onde os mais novos jogavam cartas, os mais idosos deixavam-se absorver em amena cavaqueira, com tricas e dicas do dia a dia da aldeia. Então e o cheirinho da broa quando estava a ser cozida no forno aquecido a lenha, o sabor daquela broa de cebola com carne de porco que jazia durante longo tempo na salgadeira, coberta de sal, única maneira de a conservar na altura, com um sabor sem precedentes, bem me lembro! A broa ainda vou conseguindo imitar, agora aquela carne com uma camada de toucinho com três dedos de altura já com cor de amarelado que se podia cortar às tirinhas e colocar em cima de uma fatia de broa mesmo já com oito dias de cozida e saborear assim mesmo, que petisco, uma iguaria sem igual, que só os nossos ascendentes sabiam preparar... isso é que já não há... oh que saudades!

sexta-feira, 15 de maio de 2009

MANUEL FERNANDES


POR ONDE ANDAS MEU GRANDE AMIGO

Foi com alegria e algum espanto que li o teu comentário, no meu blog. Adorei saber que uma pessoa tão importante e amiga de infância como o meu primo Manuel Fernandes estava a seguir o meu blog, desde já o meu muito obrigado. Espero que depois de um interregno longo como este, sem contacto entre nós possamos agora voltar a reatar a nossa convivência, obviamente que só terá acontecido pelas agruras da vida, não porque algum de nós o deseja-se. Então e como estás, bem espero, tal como a restante família. Gostei de saber que já és avô, parabêns ! Isso é sinónimo de que já estamos a chegar à meia idade ...
pois tal como tu tambem já pude sentir essa alegre e feliz sensação de ser avô, há uns curtos seis meses de uma linda menina chamada Catarina. Voltando à nossa meninice alegra-me que não tenhas esquecido a tão badalada frase - ò cacito fuge Tantas vezes pronunciada por alguém que já não o poderá voltar a fazer, e sempre usada no meio do divertimento e convívio, por uma pessoa que sempre soube fazer da sua vivência com os outros uma arte de fazer amigos. Deixemos de lado as lamechices e falemos de coisas mais agradáveis. Como desta vez não teremos uma galinha para cortar o pescoço, teremos de nos voltar para outro lado, talvez um bom peixe grelhado no carvão ou um tradicional cozido a portuguesa à moda do Carvalhal. Nada me daria mais alegria poder fazê-lo na tua companhia e dos nossos e poder assim voltar a recordar os tempos da nossa infância em alegre cavaqueio, pois muito mais há para contar. Para quando, avisa! Fico esperando por esse tão ansiado momento.

...Ò cacito fuje!

sexta-feira, 3 de abril de 2009

Memórias (da filha...)

Do Carvalhal... há lembranças muito boas! Há um agradecimento eterno pelo privilégio (apenas recentemente reconhecido) que é poder fazer parte deste mundo...
Lembro com carinho aquelas férias de Verão... a alegria que é para uma criança andar à vontade o dia todo, aqueles miúdos todos juntos na brincadeira a fazer barulho o dia todo e ninguém reclama, andar sem aquele permanente controlo dos pais, pois não havia muito para onde fugir e dado que naquele meio todos nos conheciam acabávamos por ter sempre alguém de olho em nós... mas era uma alegria sentir que éramos livres, que não havia horas para ir para casa, que a chave estava sempre do lado de fora da porta 24 horas por dia, era uma alegria aquela sensação de liberdade... Lembro-me de cair para dentro dos chafariz por andar a apanhar girinos (e levar nas orelhas da mummy por chegar toda molhada a casa...), lembro-me do desespero por cartões para escorregar naquelas colinas, lembro-me do medo de dar a volta da procissão à noite, das histórias da fonte fria (acho que nunca arranjei ninguém para lá ir comigo depois da meia-noite e ainda bem porque depois não sei se eu teria coragem...), lembro-me das tardes a apanhar amoras, lembro-me de tardes passadas a tomar conta das cabras da minha avó e controlar as horas de voltar pelo sino da igreja do Colmeal, lembro-me de os putos se juntarem para chatearem os adultos para arranjar alguém para nos levar para o rio, lembro-me dos banhos no rio, a piada de ver a água cheia de shampô depois do mergulho, lembro-me dos bailaricos, lembro-me das pessoas... Lembro-me também da altura em que aquilo não tinha piada nenhuma e era o pior castigo do mundo ter de ir para lá... não era nada "fixe" passar lá as férias (um bem haja a todos os pais por conseguirem aturar a adolescência dos filhos!).
Agora... olho para trás, sorrio e agradeço... foi e é um privilégio poder ver, poder estar, poder aproveitar, dar valor ao estilo de vida das pessoas (o que nos ajuda a valorizar o nosso e o esforço dos nossos pais que tiveram de abandonar a sua terra em busca de melhores condições), beber água da nascente, acordar e ver aquelas paisagens, sentir aquele cheiro puro (é engraçado como se nota a diferença).
Um obrigado aos meus pais por me terem possibilitado fazer parte daquele mundo, acho que todas as crianças deviam passar por estas experiências... contudo, apesar de achar o sossego mais reconfortante do mundo, de gostar de ir lá, de achar que é um sítio de muitos encantos, vou mas levo o meu carro... e fujo para Góis... (ó pai perdoa-me mas sabes que Góis é mais "eu", o Carvalhal é mais "tu").

E pronto... com um sorriso pelas lembranças de boas memórias acabo o meu post! Continua com o blog, estás de parabéns!

Um beijo grande da filha que vos adora (e que também tem de ter muita paciência... :) ),


Vai um mergulhinho?

Carvalhal do Sapo


O Carvalhal é apenas mais uma aldeia com essa denominação, situada na região natural da cordilheira central entre as serras do Açor e da Lousã, administrativamente colocada no distrito de Coimbra, concelho de Góis, situada nas extremas da Beira Litoral, encostada à Beira Baixa, embora seja terra de características bem mais interiores do que litorais.
Sendo por definição e características uma área geográfica fundamentalmente rural, ainda hoje, apresenta traços visíveis dessa ruralidade profunda que lhe conferem uma identidade e carácter distinto.
Esses traços consubstanciam-se num conjunto muito próprio de saberes-fazer, associados a tradições e costumes antigos, muitas vezes decorrentes de necessidades que permitiram a esta gente ao longo dos tempos vencer, ou pelo menos atenuar, as agruras do meio. A agricultura e o pastoreio eram no outrora a sua principal embora deficiente fonte de subsistência.
Refiro apenas que, historicamente, esta aldeia, dadas as suas condições naturais e modos de vida ao longo dos tempos sempre foi muito sensível ao fenómeno da emigração, marcados por períodos de surtos migratórios quer para o Brasil e África quer para a Europa. No entanto, a maior procura destas gentes foi para os grandes centros urbanos do nosso litoral, especialmente para a área da grande Lisboa, lugares onde se encontra maioritariamente radicada a diáspora dos Carvalhalenses, forçada a aí procurar melhores condições de vida.
Como terá aparecido o nome, qual a língua, qual o povo que terá criado o nome toponímico ou de familía? Para além de servir para outras designações como variedade de fruta, como a uva, a pêra, a cereja, a tangerina ou ainda de uma mata de carvalhos (seja esta a mais provável origem deste topónimo pela ainda significante existência desta árvore). E qual terá nascido primeiro, o topónimo ou o antropónimo? O topónimo de Carvalhal além de vulgar não nos elucida sobre o seu passado. Admite-se que esta região seja habitada desde o calcolítico médio por volta dos finais do segundo milénio anterior à nossa era, como atestam os conhecidos petróglifos "Pedra Riscada" e "Pedra Letreira".
A verdade é tão simples quanto esta, não é preciso ir até aos confins da Terra para descobrir paisagens maravilhosas e em estado (quase) puro. E também não é preciso enfrentar riscos impensáveis para poder gozar de uns belos dias de descanso e comunhão com a natureza, num desses paraísos esquecidos do mundo. Aqui mesmo nas aldeias da beira serra encontra esses paraísos. Um património incalculável de paisagens, flora e fauna com belas florestas e rios maravilhosos que nos oferecem aprazíveis praias fluviais com águas cristalinas que nos convidam a desfrutar deste bem que a natureza nos oferece, com sol e sombra quanto baste.
Para que não fique apenas pelo sonho, deixo-lhe aqui o convite, de carro ou a pé, não deixe de visitar este que é um dos últimos paraísos escondidos entre vales e montanhas recheadas de rara beleza com locais aprazíveis que jamais podemos esquecer, com gente hospitaleira, que mesmo não nos conhecendo abre as portas de suas casas e nos convidam a entrar. As fontes de água pura que brota das rochas graniticas são outro dos bens que a natureza nos oferece para que possamos mitigar a sede e satisfazer os desejos do nosso âmago, enfim... um sítio que nos encanta e oferece a maior paz e tranquilidade de espírito, com tudo o que por aqui há de bom!

NEVE NO CARVALHAL











domingo, 8 de março de 2009

RECORDAR O «TI» MOREIRA



No lugar do Carvalhal
Freguesia do Colmeal
Chega ao fim um ser humano
O ti Moreira morreu
a tristeza aconteceu
No último dia do ano.

Senti um nó na garganta
Ao saber que essa alma santa
Tinha chegado ao seu fim
Senti no rosto a humildade
De uma lágrima de saudade
Que tinha dentro de mim.

Da mesa se levantava
Ao saber que eu chegava
Lá vinha para me atender
Bom amigo o ti Moreira
Com a sua boa maneira
Que nunca irei esquecer.

Vinha à pressa da fazenda
À loja dar a encomenda
Para eu não perder tempo
Os cheques me confiava
Era eu quem os passava
Para fazer o pagamento.

Quantas vezes eu notava
Que certa mercadoria comprava
Não faltava de momento
São coisas que nunca esquecem
Por tudo isto merecem
O meu agradecimento.

Guardarei no coração
Com imensa gratidão
Toda a sua ajuda que deu
A este seu fornecedor
Que agora pede ao senhor
Que o ajude também no Céu.

A sua mercearia
Foi sempre uma mais valia
Para aquela boa gente
Hoje com a porta fechada
Com saudade será recordada
Por todos eternamente.

Com a sua maneira de ser
Lá vinha sempre atender
Assim que alguém o chamava
Para vir à mercearia
Fosse de noite ou de dia
Sempre bom modo virava.

Nestes aqui expressei
O que de si eu guardarei
Durante uma vida inteira
Na terra deixou a dor
Que descanse no senhor
A sua alma ti Moreira:

Como recordação e saudade do amigo,
Augusto

(Publicado no jornal "A Comarca de Arganil")


É bom saber que há pessoas que souberam reconhecer o teu bom carácter, a amizade e o carinho com que sempre foram recebidos no teu estabelecimento, por ti meu Pai, eu lhes agradeço.
O nosso muito obrigado ao Sr Augusto que também sempre fez o favor de ser nosso amigo.

sexta-feira, 6 de março de 2009

LEMBRANÇAS DA MINHA INFANCIA

A história do raposo
Quando um dia caminhava pela vereda que subia do Lambusqueiro pelo barroco da costa, não sei qual o motivo que me terá levado a estas paragens, mas o que me recordo muito bem foi do que vi , um raposo ainda bebé que uivava a entrada da toca, provavelmente reclamando a presença da mãe raposa, para se poder saciar com o leite materno. E obviamente que logo me passou pela cabeça apanhar aquele raposinho... não tardou nada para que estivesse a fazer o convite ao meu grande amigo e companheiro de aventura o "Manuel da Lucinda" para ajudar na tarefa, pois isto era tarefa para a dupla, porque se um dizia esfola o outro dizia mata. A decisão foi rápida, enxada ao ombro e ai vão eles, toca a derrubar a parede da calçada do "João Maria" o que nos custou alguns dissabores, mas derrubada a parede da calçada e mais alguns metros em frente começou a toca da raposa a dar a volta em direcção paralela a porta de entrada, mas como a missão era capturar o bichinho vai de cavar, o ânimo não faltava e ao fim de algumas investidas diárias, que duraram cerca de três dias lá conseguimos chegar ao ninho e apanhar o ansiado raposinho. Foi com grande alegria que chegamos à aldeia a apresentar o nosso troféu à população.
Agora surgia o problema de como albergar o animal, tarefa que se tornava difícil, pois não era fácil arranjar casa segura para tão astuto morador. Claro que ao fim de uns minutos a ideia surgiu, vai ficar dentro de uma caixa de madeira que eu tinha guardada numa casa onde dormiam alguns operários que trabalhavam para o meu pai na construção. E assim foi, todos os dias bem cedo eu deslocava-me a esse local para dar de comer ao raposinho. Qual não foi a minha desilusão quando um dia ao chegar junto da caixa que servia de casa ao animal, verifiquei que este estava morto, logo me apressei a dar a triste noticia aos restantes residentes (os operários do meu pai) que logo se apressaram a dizer que se calhar eu tinha dado comida a mais e o bichinho morreu de congestão.
Mas a conclusão vim mais tarde a saber, o meu bichinho de estimação fazia muito barulho de noite não deixando dormir os restantes residentes e o sr Manuel da Cabreira um bom artista na arte de pedreiro resolveu apertar o pescoço do meu lindo raposinho. Terminando assim a saga do raposo, mas não na memória de meu pai que não se cansava de evocar a saga do raposo em especial quando a dupla Acácio e Manuel da Lucinda estavam presentes.

domingo, 1 de março de 2009

MANUEL MOREIRA 'O MOREIRA DO CARVALHAL'

Manuel Moreira, nasceu no Carvalhal do Sapo a 26 de Agosto de 1921 e aqui faleceu a 31 de Dezembro de 2008.
É costume comentar que a vida são dois dias, a data do nascimento e a data da morte e vê-mo-lo sempre que vamos a um cemitério e todas as lápides traduzem esta realidade no seu dizer singelo, nasceu a tantos de tal e faleceu a tantos de tal. A diferença entre estas datas é um interregno da vida, uma imagem que perdurará ou se extinguirá, consoante as acções que podemos fazer em vida e que marcam a nossa passagem por este mundo.
Manuel Moreira, neste seu interregno, foi uma figura que marcou a sua passagem por este mundo na nossa terra, e que ficará para sempre na memória das nossas gentes, foi sempre uma figura marcante, de grande carisma para a era em que viveu, foi um grande exemplo para a sua e futuras gerações. Um símbolo dum mundo que deixou marca e que infelizmente está a desaparecer!
Era um homem que fazia da convivência uma devotada arte de partilhar a amizade. O seu grande amor pela família e a amizade pelos amigos era o que de mais importante tinha na sua vida.
Teve uma vida difícil, uma juventude vivida em terra inóspita de fracos recursos que tornava a vivência muito dura. Para aumentar as já normais dificuldades, surge uma situação inesperada e incompreensível para uma criança de nove anos, ficar órfão de pai, com mais dois irmãos de seis e três anos, a mãe fica com maiores responsabilidades e obrigações para cumprir, deixadas pelo falecimento inesperado do pai, a pobreza que exalava na família tornava impossível o cumprimento destas obrigações. É aí que entra a responsabilidade do filho mais velho, colaborar na alimentação da família e no cumprimento dos deveres da mesma. Foi com esse sentimento de amor fraternal, e o sentido do cumprimento dos deveres de família, que toma uma decisão, mudar o rumo da sua vida, arranjar maneira de ganhar a vida, uma vida que trouxesse algum dinheiro, para alimentar a família e pagar as dívidas que ainda se mantinham. Foi na esperança de uma vida melhor que tomou o rumo a Lisboa, onde foi procurar um meio de subsistência e o melhor que encontrou foi como moço de armazém, onde se empregou, recebendo um parco salário, mas com boa gestão e muito esforço conseguiu o seu objectivo, entretanto surge uma outra situação, a de formar uma nova família, consumar o casamento, pois isso seria a ordem normal da vida... e assim aconteceu. Casamento consumado a vida vai ter de continuar, a mulher fica na aldeia a cultivar as suas terras e ele vai ter de continuar a sua sorte na capital. Situação que se foi mantendo por alguns anos mas as saudades da esposa e do primeiro filho, já nascido, começam a apertar e a angústia da distância a fazer-se sentir... e assim, há que enfrentar a situação! Foi na tentativa de conseguir dar novo rumo à vida dura, aos salários miseráveis, à separação da família pela distância que surge a oportunidade que há algum tempo ecoava o regresso à sua terra. Era uma oportunidade única, dar seguimento a um pequeno estabelecimento de comércio misto aí existente. Ultrapassados alguns percalços pelo meio, os escassos meios para enfrentar as dificuldades que se avizinhavam, foi com a grande força de espírito de que sempre foi portador que tudo se ultrapassou e o seu objectivo atingido. Mesmo após o seu regresso à terra natal, a vida permaneceu dura mas na companhia da família e podendo contar com o seu apoio, foi mais fácil lidar com a crueza duma luta que afinal nada mais foi que o apanágio de uma vida.
Com o passar dos anos, a família vai aumentando, os filhos vão aparecendo até um total de oito, sem contar com o desaparecimento de uma ente querida que poucos dias de vida teve, mas que continua a perdurar na nossa memória. Tem que haver força e alento para enfrentar as agruras da vida! Passa os seus dias entre gerindo o estabelecimento e alguns negócios paralelos como a construção e o negócio de madeiras, que mantém por muitos anos.
E ultimamente, embora já tivesse abandonada há algum tempo os outros negócios, manteve sempre aberto o seu estabelecimento. Actividade esta que, ultimamente, já com alguma dificuldade de mobilidade física ia prestando apenas os serviços essenciais, que eram uma maneira de minorar o sofrimento de pessoas que, como ele, continuavam a dar vida à aldeia e que teimam em não a abandonar pois ela é sem dúvida o símbolo da sua existência.

Foi dentro deste estabelecimento que passou a maior parte da sua vida, onde muito trabalhou, se divertiu, teve momentos de grande alegria na companhia de clientes e amigos e que por ironia do destino teve os seus últimos momentos de vida, após ter terminado a sua normal distribuição de pão, deu o seu último suspiro...

É com muito mágoa que a custo escrevo estas linhas, mas sinto uma grande felicidade por poder desta forma, prestar homenagem a uma homem que sem duvida fez história nesta terra. A sua casa estava sempre aberta para receber a família e amigos que muitas vezes se deslocavam de longe para ir visitar o amigo Moreira do Carvalhal. Uma outra faceta da vida deste homem, foi um condão que, infelizmente, nos dias de hoje, nem todos conseguem, o dom de fazer amigos! A sua casa era paragem obrigatória e as portas estavam sempre abertas para receber a família, amigos ou simples visitas, para todos havia sempre, qualquer coisa para partilhar, beber um copo, comer uma sardinha ou um bocado de queijo, acompanhada de uma fatia de broa... bens de outrora, são coisas que as gerações vindouras não vão conhecer.
Partiu... embora já pareça uma eternidade ainda há pouco tempo! Foi um homem do povo, um homem simples mas de carácter, que fez muita falta a esta aldeia.
Manuel Moreira, vai sempre continuar presente na memória desta aldeia, terra que sempre amou e dedicou grande parte da sua vida. Continuarás sempre a fazer parte de nós! jamais serás esquecido.
Até amanhã meu pai!

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

Ribeira do Carvalhal







Moinho em ruínas na ribeira do Carvalhal




locais paradisíacos de aparência selvagem, que nos convidam a parar e meditar, como é possível haver tanta beleza escondida entre penhascos,salgueiros, amieiros e luxuriante vegetação, envolvendo estas pequenas quedas de água cristalina, que outrora era aproveitada para fazer mover lagares de azeite e moinhos de farinha.